Tratamentos de água e de esgoto e o coronavírus

Como em toda situação de crise, a pandemia do novo coronavírus tem resultado em muita informação. Isso é bastante positivo para um momento em que as pessoas precisam saber qual a melhor forma de agir. Por outro lado, em alguns casos, há a disseminação de fake news, ou seja, de dados ou fatos inverídicos. Desse modo para trazer informações confiáveis sobre os tratamentos de água e de esgoto e o coronavírus, a Acqua Expert Engenharia Ambiental elaborou uma tradução de uma parte do briefing técnico emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os biólogos e engenheiros da Acqua Expert esperam, com isso, contribuir positivamente com a conscientização da população e dos profissionais do setor de tratamento de água e de esgoto no País. O documento da OMS, veiculado no dia 3 de março, fala principalmente de questões relacionadas à água e, também, à higiene. Certamente, esses são dois fatores essenciais neste momento de combate ao COVID-19 (doença respiratória aguda originária do novo coronavírus). Além disso, a OMS publicou também uma grande quantidade de documentos técnicos sobre tópicos relativos à prevenção e combate ao contágio.

Transmissão do COVID-19

Existem duas rotas principais de transmissão do COVID-19: a rota respiratória e a de contato. Contudo, o risco de contágio pelas fezes de uma pessoa infectada parece ser baixo. Há algumas evidências de que o vírus pode levar a infecções intestinais e estar presente nas fezes. Aproximadamente 2-10% dos casos confirmados de COVID-19 apresentaram diarreia, sendo que alguns estudos detectaram fragmentos do RNA viral em material fecal de pacientes. Apesar disso, até o momento apenas um estudo foi capaz de cultivar o exemplar extraído da amostra de fezes. Não há registros de contaminação fecal-oral do coronavírus. Embora a persistência na água potável seja possível, não há evidências de espécies de coronavírus (ou seja, membros da família dos coronavírus) que infectem humanos e que estejam presentes em fontes de água superficial ou subterrânea, ou mesmo de que sejam transmitidos através de água contaminada.

Sobrevivência

O vírus do COVID-19 é o que chamamos de vírus encapsulado (Figura 1), apresentando uma frágil membrana externa. Geralmente este tipo de vírus é menos estável no ambiente e mais susceptível a agente oxidantes, como o cloro. Embora não haja evidência da sobrevivência do vírus em água e esgoto, é provável que ele seja inativado mais rapidamente do que os vírus não-encapsulados, conhecidos por infectar humanos e que tem transmissão aquática, como o adenovírus (Figura 2), rotavírus e o vírus da hepatite A. O calor, pH alto ou baixo, luz solar e uso de desinfetantes comuns facilitam a destruição do vírus.

Figura 1. Exemplo de vírus com membrana externa.

Figura 2. Adenovírus.

Ainda não se sabe ao certo quanto tempo o vírus que causa o COVID-19 sobrevive em superfícies, mas parece provável que ele se comporte como outros coronavírus. Uma revisão recente da sobrevivência de coronavírus humanos em superfícies encontrou grande variabilidade, de 2 horas a 9 dias. Ou seja, o tempo de sobrevivência depende de vários fatores, incluindo o tipo de superfície, temperatura, umidade relativa e a linhagem do vírus. A mesma revisão também constatou que uma inativação efetiva poderia ser alcançada em 1 minuto usando desinfetantes comuns, como etanol a 70% ou hipoclorito de sódio.

Manutenção do abastecimento 

O vírus COVID-19 não foi detectado em fontes de água potável e, com base nas evidências atuais, o risco é baixo. Estudos laboratoriais realizados em ambientes bem controlados indicaram que o vírus poderia permanecer infeccioso na água contaminada com fezes por dias ou semanas. Dessa maneira, várias medidas podem ser tomadas para melhorar a segurança da água, começando com a proteção da fonte; tratar a água no ponto de distribuição, coleta ou consumo; e garantir que a água tratada seja armazenada com segurança em casa, em recipientes regularmente limpos e cobertos. Métodos convencionais de tratamento de água que utilizam filtração e desinfecção devem desativar o vírus COVID-19. Outros coronavírus humanos demonstraram ser sensíveis à cloração e desinfecção com luz ultravioleta (UV). Como os vírus envelopados são cercados por uma membrana celular lipídica, que não é robusta, é provável que o vírus COVID-19 seja mais sensível ao cloro e outros processos de desinfecção por oxidantes do que muitos outros vírus, como os coxsackievirus, que possuem uma camada proteica. Para uma desinfecção eficaz, deve haver uma concentração residual de cloro livre de ? 0,5 mg/L após pelo menos 30 minutos de tempo de contato com pH < 8,0. Um residual de cloro deve ser mantido em todo o sistema de distribuição. Em locais onde o tratamento de água e o abastecimento seguro de água encanada não estão disponíveis, várias tecnologias domésticas de tratamento da água são eficazes na remoção ou destruição de vírus, incluindo a fervura, o uso de ultrafiltração, a irradiação solar e, em águas que não apresentem turbidez, a irradiação UV.

Gerenciamento seguro

Até o momento, não há evidências de que o vírus COVID-19 tenha sido transmitido por sistemas de esgoto com ou sem tratamento. Além disso, não há evidências de que os trabalhadores de estações de tratamento de esgoto contraíam a síndrome respiratória aguda grave (SARS), causada por outro tipo de coronavírus e que causou um grande surto em 2003. Como parte de uma política de saúde pública integrada, o efluente transportado em sistemas de esgoto deve ser tratado em estações bem projetadas e bem gerenciadas. Cada estágio do tratamento (assim como o tempo de retenção e diluição) resulta em uma redução adicional do risco potencial. Uma lagoa de estabilização é geralmente considerada uma tecnologia prática e simples de tratamento de esgoto, particularmente adequada para a destruição de patógenos, uma vez que os tempos de retenção relativamente longos (ou seja, 20 dias ou mais) combinados com a luz solar, níveis elevados de pH, atividade biológica e outros fatores aceleram a destruição de patógenos. Uma etapa final de desinfecção pode ser considerada se as estações de tratamento de esgoto existentes não forem otimizadas para remover vírus. Devem ser seguidas as melhores práticas para proteger a saúde dos trabalhadores nas instalações de tratamento de saneamento. Portanto, os trabalhadores devem usar equipamento de proteção individual (EPI) apropriado, que inclui roupas de proteção, luvas, botas, óculos ou protetor facial e máscara. Ademais, eles devem realizar a higiene das mãos com frequência e devem evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas. Por Ana Luiza Fávaro Referência: Water, sanitation, hygiene and waste management for the COVID-19 virus. Foto abre: Uma imagem microscópica digitalmente aprimorada mostra uma infecção por coronavírus em azul no primeiro caso descoberto nos Estados Unidos. Crédito: CDC/Hannah A Bullock/Azaibi Tami

Data publicação: 31 de março de 2020

Canais: Conservação dos Recursos Hídricos

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